Aqui quero: Divulgar aqueles que deram a voz ás minhas palavras. Compartilhar com todos,o pouco que sei sobre o Fado. Divulgar e demonstrar que no Porto, também há Fado.
dezembro 31, 2023
dezembro 27, 2023
BIOGRAFIAS
Dom
Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara nasceu em Lisboa, no Alto de Santa
Catarina, no dia 7 de Maio de 1928. Descende de uma antiga família cujas raízes
remontam a João Gonçalves Zarco.
Filho
de Maria Edite e João Luís da Câmara, jornalista e locutor na Emissora
Nacional, começou a interessar-se pelo Fado ouvindo os discos de João do Carmo
de Noronha, seu tio avô, e assistindo aos ensaios de sua tia, Maria Teresa de
Noronha.Vicente da Câmara começou a “puxar para a fadistice” e, com 15 anos, já
interpretava o fado como amador, frequentando com os amigos espaços como a
Adega Mesquita, a Adega Machado ou a Adega da Lucília. Nesta altura aprende
também a tocar guitarra. Apesar de presença habitual nestes espaços, o fadista
nunca integrou nenhum elenco fixo das casas de fado.Incentivado pela tia e por
Henrique Trigueiro participa num concurso da Emissora Nacional, nesse ano a
vencedora é Júlia Barroso, mas no ano seguinte Vicente da Câmara ganha o 1º
prémio. A partir dessa data, 1948, actuou num grande número de programas
daquela estação, como os “Serões para Trabalhadores”, programas de estúdio e
sobretudo no programa que a sua tia, Maria Teresa de Noronha, manteve naquela
emissora até 1962.Por essa altura, em 1950, e em vésperas da sua partida para
Luanda (Angola), onde permanecerá 2 anos, assina o seu primeiro contrato
discográfico, com a Valentim de Carvalho, e grava o seu primeiro disco,
lançando os temas: "Fado das Caldas" e "Varina".A 23 de
Abril de 1955 casa-se com D. Maria Augusta de Mello Novais e Atayde, com quem
terá 6 filhos. O mais novo, José da Câmara, segue as pisadas do pai, chegando
os dois a pisar o mesmo palco e a gravar juntos, como acontece no CD “Tradição”
(EMI, 1993), onde se juntam a Nuno da Câmara Pereira numa homenagem a Maria
Teresa de Noronha. Vicente da Câmara passa a ser contratado da editora Custódio
Cardoso Pereira em 1961. É neste período que escreve "A Moda das Tranças
Pretas", hoje reconhecidamente o seu maior. Em 1967 celebra um contrato
com a Rádio Triunfo, onde grava temas como "Guitarra Soluçante", “O
Fado Antigo é Meu Amigo” e "Há Saudades Toda a Vida".
No
cinema participou na "Última Pega" (1964), filme realizado por
Constantino Esteves, com Leónia Mendes e Fernando Farinha. Vicente da Câmara
protagoniza uma desgarrada com Fernando Farinha. Só voltará ao cinema em 2007,
mas as suas participações em programas de televisão serão uma constante ao
longo de toda a carreira.Após o 25 de Abril o fado passa por um conhecido
período de menor popularidade que se reflecte para o fadista numa quase total
ausência de espectáculos. Vicente da Câmara mantém a sua actividade
profissional, durante 19 anos, como inspector da CIDLA, pelo que a sua
dedicação ao fado como profissional, com uma actividade bastante intensa, a
nível nacional e internacional, atinge o auge na década de 80.Desde então tem
realizado espectáculos na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Holanda,
Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Seul, Coreia, Malásia, Brasil,
Moçambique e Angola.
Em
1989, por ocasião dos seus 40 Anos de Carreira Artística, os amigos organizam
uma Festa de Homenagem, no Cinema Tivoli, onde ele próprio actuou e, como
confidencia "jamais esquecerá". No dia 25 de Setembro, na inauguração
do Museu do Fado (do qual é um dos membros do Conselho Consultivo), abriu o
espectáculo realizado no Largo Chafariz de Dentro, gravado pela RTPi.
Poeta
e intérprete do fado, acompanhando-se à guitarra, D. Vicente continua a manter
a tradição do fidalgo fadista, imprimindo às suas interpretações um cunho muito
particular, destacando-se uma característica única, o timbre e musicalidade da
sua voz, numa sempre clara articulação dos poemas. O seu registo discográfico
mais recente, “O rio que nos viu nascer”, foi editado pela Ovação em 2006. O
mercado acolhe também algumas reedições das suas gravações em formato CD, de
que salientamos as colectâneas do seu trabalho nas colecções “O Melhor dos
Melhores” (Movieplay, 1994) e “Biografia do Fado” (EMI, 2004).
Em
2007 regressa ao cinema, no filme de Carlos Saura, "Fados",
protagonizando um excerto dedicado às Casas de Fados, onde se junta a Maria da
Nazaré, Ana Sofia Varela, Carminho, Ricardo Ribeiro e Pedro Moutinho para
recriar o ambiente das interpretações.
Em
2009, Vicente da Câmara festeja os seus 60 anos de carreira artística. O Teatro
Tivoli é novamente o palco de comemoração da efeméride com um espectáculo onde,
para além do próprio actuaram José da Câmara, Maria João Quadros, Teresa
Siqueira e António Pinto Basto, entre outros. Ainda neste ano a Fundação Amália
Rodrigues distinguiu-o com o “Prémio Carreira”.
Vicente
da Câmara falece a 28 de Maio de 2016.
Fonte:MUSEU
DO FADO
Baptista-Bastos
(1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa,
Ediclube.
Museu
do Fado - Entrevista realizada em 17 de Novembro/2006.