Filha de
Joaquim Ramos e de Hermínia Ramos, Adelina Ramos nasce em Lisboa (Monte
Pedral), no bairro da Graça, a 14 de Junho de 1916.Em 1929, com apenas 14 anos,
canta pela primeira vez no Grémio Instrutivo Familiar Os Trovadores,
que então existia na Calçadinha do Monte. Nesta sociedade recreativa do bairro
da Graça, era frequente a passagem de algumas das figuras mais emblemáticas do
Fado lisboeta como Ercília Costa, Berta Cardoso ou Alfredo Marceneiro.
Adelina Ramos faz assim a sua entrada na vida artística, mantendo-se como
amadora durante cerca de quatro anos (1929-1933), espaço de tempo em que é
muito solicitada para actuar em clubes recreativos e festas de beneficência.
Aos 17 anos, em Março de 1933, com o intuito de auxiliar nas despesas da casa e
por a sua mãe se encontrar doente, Adelina Ramos tira a carteira
profissional.Decorridos apenas 6 meses da sua profissionalização já o
jornal Trovas de Portugal lhe dedica a primeira página da
publicação (Trovas de Portugal, 20 de Setembro de 1933), apresentando
uma entrevista com a fadista.Como profissional, Adelina Ramos percorre Portugal
de lés-a-lés e integra o elenco de algumas das principais Casas de Fado da
época, como o Retiro da Severa, o Solar da Alegria ou o Luso. Beatriz Costa, na
sua primeira ida ao Brasil quer levá-la consigo, mas a mãe não aceita que a
filha viaje sem a sua companhia e a viagem fica adiada. Mais tarde recusará,
também, uma digressão à América do Norte, limitando a sua carreira às actuações
em Portugal e, em particular, à Casa de Fados que abrirá no Bairro Alto. No
final da década de 1930 faz uma digressão pelo Norte do país em conjunto com
outros intérpretes do Retiro da Severa: Manuel Monteiro, Alberto Costa, Maria
do Carmo Torres e Maria Emília Ferreira. A actuação no Teatro Sá da Bandeira no
Porto tem especial destaque pelo grande impacto que tem junto do público.
No
emblemático Royal Cine do bairro que a viu nascer realizam-se duas festas
artísticas em sua homenagem, a primeira a 21 de Abril de 1939 e a segunda a 13
de Dezembro de 1940, a última uma homenagem partilhada com a fadista Maria
Emília Ferreira.Alguns anos mais tarde casa com José Maria Baptista Coelho, de
quem adopta os dois sobrenomes. Em 1950 ambos fundam e gerem a Tipóia,
restaurante típico situado na Rua do Norte no Bairro Alto. Nos 22 anos da sua
existência, Adelina Ramos dirige artisticamente o espaço, com intenção de
proporcionar um melhor serviço ao público de Fado, dando ao género um local
apropriado. Por ali passa toda a elite do Fado, de onde se destacam os nomes de
Manuel de Almeida, Carlos Ramos, Celeste Rodrigues, Deolinda Rodrigues ou
Fernanda Baptista, todos permanecendo por longos anos no elenco da casa.
O
"Fado do Cauteleiro" é o seu primeiro grande sucesso. Adelina Ramos
aprecia sobretudo o Fado Antigo, em detrimento do Fado canção, como revela em
entrevista ao jornal Canção do Sul de Maio de 1940. Na década
de 1940 faz alguns duetos com Fernando Farinha nas actuações no Luso. Os temas
“O meu casamento” e a resposta “Começa o ciúme”, de autoria de Carlos Conde,
são de tal forma populares que constam dos anúncios publicados na imprensa para
publicitação do restaurante típico. A fadista foi a criadora do tema “Não
passes com ela à minha rua”, mais tarde celebrizado na voz de Fernanda Maria,
bem como das faixas "Ouvi cantar o Ginguinhas" de Linhares Barbosa e
"Achei-te tanta diferença" de João de Freitas. Após o 25 de Abril, a
Tipóia sofre os efeitos da redução do número de frequentadores, resultante da
conotação do Fado com o regime salazarista e consequente afastamento do público
deste género musical. As dificuldades do espaço intensificam-se pela doença
irremediável do seu marido, José Coelho, que entretanto falece. Adelina Ramos
retira-se da vida artística em 1975 mas na história do Fado deixa a contribuição
de um espaço que durante décadas foi referência obrigatória, bem como algumas
interpretações que lhe valeram as considerações de “voz vibrante e autêntica
fadista de raça” ou “a verdadeira fadista de raça” que encontramos nos cartazes
dos seus espectáculos. Em 1999 foi homenageada pelo Museu do Fado, no ciclo “Eu
lembro-me de ti…”.
Adelina
Ramos faleceu na Casa do Artista a 26 de Julho de 2008.
Fonte:MUSEU
DO FADO
Trovas de
Portugal, 20 de Setembro de 1933
Guitarra de
Portugal, 25 de Novembro de 1938
Canção do
Sul, 16 de Maio de 1940
Ecos de
Portugal, 15 Agosto de 1949
Ecos de
Portugal, 15 Abril de 1951
A Voz de
Portugal, 10 de Setembro de 1954
Museu do
Fado - Entrevista em 15 Dezembro/2006.
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