Alcindo
Simões de Carvalho nasceu a 9 de Janeiro de 1932, em Lisboa, na Rua da Rosa,
localizada no emblemático e castiço Bairro Alto. Aqui, Alcindo de Carvalho
cresceu junto do seu pai, alfaiate de profissão e amante do fado, e dos seus
cinco irmãos, entre os quais a guitarra e a viola marcavam presença em pequenos
concertos familiares onde se tocava e cantava o fado. Aos poucos, Alcindo de
Carvalho foi-se deixando abraçar pelo género musical e inicia a interpretação
em público dos seus primeiros temas de fado.Mais tarde, ingressa no mercado de
trabalho e já empregado numa casa de comércio presta as primeiras provas na
rádio. Curioso é que, este facto teve como impulsionadora a filha do patrão
onde trabalhava, que o inscreve na Emissora Nacional com o propósito de prestar
provas. O resultado é feliz, e Alcindo de Carvalho passa a ser convidado para,
regularmente, integrar alguns programas radiofónicos. Estamos no ano de
1953.Dentro do meio artístico o seu talento é descoberto por Márcia Condessa,
também amiga da família, e aos 18 anos, a desafio do guitarrista Carvalhinho,
passa a cantar na casa típica Márcia Condessa, estreando-se desta forma para um
percurso de sucesso; “… a primeira casa onde trabalhei foi precisamente na
Márcia Condessa, estive lá 18 anos (…) Ela era uma mulher maravilhosa e tinha
uma casa maravilhosa”, confidenciará o fadista em entrevista. Certo dia, após
um programa na Emissora Nacional, é convidado por Lucília do Carmo para
integrar o elenco do Faia, onde conhece Carlos do Carmo. Alcindo de Carvalho
acrescenta: “Fui e estive lá 17 anos. Gostei muito, foi uma casa que me
inspirou muito, uma casa maravilhosa, ainda hoje lá vou mas vejo que é já um
pouco diferente (…) o Faia marcou-me muito”.Embora o seu pai fosse um grande
admirador de fado, não aceitava de bom grado o facto de Alcindo de Carvalho
seguir uma carreira artística: “…. Achava que era uma vida boémia, mas depois
começou a gostar, achava que eu cantava bem e ia ouvir-me cantar.”, declarou em
entrevista. Durante mais de 25 anos, Alcindo de Carvalho foi vendedor de tintas
da Sotinco, trabalho esse que realizava de dia, conjugando com as apresentações
diárias nas diversas casas típicas de Lisboa, um período tido como mais “duro”,
mas felizmente já ultrapassado. Apesar das poucas horas de sono, Alcindo de
Carvalho guarda as melhores lembranças desses tempos, em que trabalhou com
grandes nomes no género, casos de Carlos Ramos, Tristão da Silva, Fernando
Farinha, Alfredo Marceneiro, entre outros. No percurso das casas típicas destaca-se
ainda a permanência durante 21 anos na Parreirinha de Alfama, propriedade de
Argentina Santos e da excelente relação que ainda hoje mantêm com a fadista.
Este episódio permitiu-lhe poder conciliar, em determinado momento da sua
carreira, as actuações na Parreirinha de Alfama, na Taverna do Embuçado e mais
recentemente no Clube de Fado.De Carlos Ramos, Alcindo de Carvalho guarda os
melhores momentos, e declara “Ele foi uma pessoa maravilhosa para mim, tenho o
repertório dele, canto muitas coisas dele, foi ele que me deu um livro de
poemas antes de morrer. Fiquei muito triste com a morte dele, foi uma pessoa
que me tocou muito.”. Hoje, Alcindo de Carvalho ainda revive os momentos que
passou com o célebre fadista e que se tornou numa referência para a sua vida e
carreira artística. “Ele tinha poemas maravilhosos, escritos por poetas
maravilhosos e aquelas letras para mim dizem-me qualquer coisa”, estes
momentos, em que Alcindo de Carvalho interpreta o repertório de Carlos Ramos,
revelam-se de um grande saudosismo e emoção.Do repertório de Alcindo de
Carvalho também fazem parte letras de Artur Ribeiro, Moniz Pereira e Lopes
Vítor, autor da controversa “A Morte da Mariquinhas”, entre outros.
Em 1974 Alcindo de Carvalho estreia-se na televisão; “fiz dois programas seguidos. Quer dizer: gravei um e passado três ou quatro dias recebi um telefonema para fazer outro programa. Fiquei até muito admirado.”.( Baptista-Bastos (1999): 18). Todavia, apesar de terem sido programas bem recebidos pelo público, acabaram por não ter continuidade. È na década de 80 que grava o seu primeiro disco para a etiqueta Telectra, um 45 rpm. Outras edições se seguiram (33 rpm, cassetes e cd´s) mas hoje em dia o fadista recusa-se a gravar, “resolvi não gravar mais discos nenhuns…”, afirma sem grande nostalgia. Mais recentemente, já na década de 90, Alcindo de Carvalho é convidado por Ricardo Pais a participar num programa de fados intitulado “Fados” e apresentado no Centro Cultural de Belém. Aqui o fadista contracena ao lado de José Pedro Gomes e Carlos Zel. Este espectáculo foi também apresentado em Marselha. Mais tarde, é convidado por Filipe La Feria para o espectáculo “Cabaret”, com estreia no Teatro Politeama. No decurso destas experiências, Alcindo de Carvalho também nos partilha o convite que teve para participar num festival em Londres, por ocasião da Semana de Portugal. Na Grande Noite do Fado do ano 2004, Alcindo de Carvalho recebe o Prémio de Carreira, e é homenageado num espectáculo decorrido no Teatro de S. Luiz, em Lisboa.Em Julho de 2005 sobe ao palco, em estreia no Teatro Nacional de São João (Porto), o espectáculo de Ricardo Pais "Cabelo Branco é Saudade". Alcindo de Carvalho partilha o elenco com Argentina Santos, Celeste Rodrigues e Ricardo Ribeiro e afirma: “têm sido casas cheias em todo o lado para onde vamos (…) Estou muito feliz e contente de agora, depois da minha idade, andar a fazer isto. Acompanhados pela guitarra de Bernardo Couto, pela viola-baixo de Nando Araújo e sob a direcção musical de Diogo Clemente (também viola), este “Cabelo Branco é Saudade” já se apresentou em inúmeros espectáculos pela Europa e Japão.Do seu vasto repertório destaque para os temas "Não venhas tarde" de Aníbal da Nazaré, “Bons Tempos" de José Galhardo, ambos popularizados por Carlos Ramos e "Fado de Ser Fadista" de Artur Ribeiro.
Fonte:MUSEU DO FADO
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
Programa do espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" (2005), Porto, Teatro Nacional de São João.
Museu do Fado - Entrevista realizada em 05 de Setembro/2006.
Em 1974 Alcindo de Carvalho estreia-se na televisão; “fiz dois programas seguidos. Quer dizer: gravei um e passado três ou quatro dias recebi um telefonema para fazer outro programa. Fiquei até muito admirado.”.( Baptista-Bastos (1999): 18). Todavia, apesar de terem sido programas bem recebidos pelo público, acabaram por não ter continuidade. È na década de 80 que grava o seu primeiro disco para a etiqueta Telectra, um 45 rpm. Outras edições se seguiram (33 rpm, cassetes e cd´s) mas hoje em dia o fadista recusa-se a gravar, “resolvi não gravar mais discos nenhuns…”, afirma sem grande nostalgia. Mais recentemente, já na década de 90, Alcindo de Carvalho é convidado por Ricardo Pais a participar num programa de fados intitulado “Fados” e apresentado no Centro Cultural de Belém. Aqui o fadista contracena ao lado de José Pedro Gomes e Carlos Zel. Este espectáculo foi também apresentado em Marselha. Mais tarde, é convidado por Filipe La Feria para o espectáculo “Cabaret”, com estreia no Teatro Politeama. No decurso destas experiências, Alcindo de Carvalho também nos partilha o convite que teve para participar num festival em Londres, por ocasião da Semana de Portugal. Na Grande Noite do Fado do ano 2004, Alcindo de Carvalho recebe o Prémio de Carreira, e é homenageado num espectáculo decorrido no Teatro de S. Luiz, em Lisboa.Em Julho de 2005 sobe ao palco, em estreia no Teatro Nacional de São João (Porto), o espectáculo de Ricardo Pais "Cabelo Branco é Saudade". Alcindo de Carvalho partilha o elenco com Argentina Santos, Celeste Rodrigues e Ricardo Ribeiro e afirma: “têm sido casas cheias em todo o lado para onde vamos (…) Estou muito feliz e contente de agora, depois da minha idade, andar a fazer isto. Acompanhados pela guitarra de Bernardo Couto, pela viola-baixo de Nando Araújo e sob a direcção musical de Diogo Clemente (também viola), este “Cabelo Branco é Saudade” já se apresentou em inúmeros espectáculos pela Europa e Japão.Do seu vasto repertório destaque para os temas "Não venhas tarde" de Aníbal da Nazaré, “Bons Tempos" de José Galhardo, ambos popularizados por Carlos Ramos e "Fado de Ser Fadista" de Artur Ribeiro.
Fonte:MUSEU DO FADO
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
Programa do espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" (2005), Porto, Teatro Nacional de São João.
Museu do Fado - Entrevista realizada em 05 de Setembro/2006.
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