Aqui quero: Divulgar aqueles que deram a voz ás minhas palavras. Compartilhar com todos,o pouco que sei sobre o Fado. Divulgar e demonstrar que no Porto, também há Fado.
abril 26, 2023
BIOGRAFIAS
Celeste
Rodrigues foi uma fadista tradicional das mais conceituadas do universo musical
português, considerada uma referência pelas mais jovens gerações de
intérpretes. Maria Celeste Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão a 14 de Março de
1923. Quando tinha 5 anos os seus pais vieram para Lisboa e estabeleceram-se no
bairro de Alcântara. Celeste Rodrigues frequentou a Escola Primária da Tapada e
recorda a sua infância como igual à de tantas outras crianças, com a excepção
de se reconhecer como uma "maria rapaz", traquina, embora tímida e
envergonhada. Quando não quis estudar mais, empregou-se numa fábrica de bolos.
E, mais tarde, junto com a irmã Amália, trabalha num ponto de venda de artigos
regionais na Rocha Conde de Óbidos (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967).A
sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de
várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega
Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista. Celeste Rodrigues
estreia-se em 1945 no Casablanca (actual Teatro ABC) e, dois meses depois,
ingressa numa Companhia teatral e parte para o Brasil, acompanhando a irmã
Amália Rodrigues na representação da opereta "Rosa Cantadeira" e da
revista "Boa Nova". Esta digressão acaba por durar cerca de 1 ano. Ao
longo da sua carreira Celeste Rodrigues receberá diversos convites para
integrar peças de teatro, mas recusa sempre. No regresso a Lisboa dá continuidade
à sua carreira de fadista, apresentando-se no elenco de diversos espaços de
fado como o Café Latino, o Marialvas ou a Urca (na Feira Popular). Mais tarde,
transita do Luso para a Adega Mesquita, onde se mantém por 4 anos.
Posteriormente integra os elencos da Tipóia e da Adega Machado. No início da
década de 1950 a fadista regressa ao Brasil, desta feita para actuar na rádio,
na televisão e no restaurante Fado, de Tony de Matos, sempre com assinalável
êxito. Aos 30 anos casa-se com o actor Varela Silva, com quem tem duas
filhas. É contratada para cantar na casa Márcia Condessa e, em Janeiro de 1957,
torna-se proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço privilegiado
para a convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas tertúlias, mas
ao qual renuncia 4 anos mais tarde, confessando não sentir “queda para o
negócio” (cf. Álbum da Canção, 1 de Maio de 1967). Na década de 1950 Celeste
Rodrigues era já uma figura ímpar no universo do Fado, levando-o além
fronteiras, para países como o Brasil, Espanha, Congo Belga, África Inglesa,
Angola e Moçambique. E, em território nacional, era também uma fadista
consagrada, conforme revela à revista “Álbum da Canção”, foi das primeiras “a
actuar no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular (…)” e “a
primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase
de experiências para as emissões regulares.” (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Maio
de 1967), actuações em espaços bem demonstrativos da sua grande
popularidade. Continuando a pautar o seu percurso profissional pelas
apresentações nas casas de fado de Lisboa, Celeste Rodrigues integra o elenco
da Parreirinha de Alfama no início da década de 1960, e aí permanece por mais
de 10 anos, altura em que João Ferreira-Rosa a convida para o elenco da Taverna
do Embuçado, onde faz actuações ao longo de 25 anos. Posteriormente actuará nas
casas Bacalhau de Molho e Casa de Linhares. A fadista concretiza uma carreira
de sucesso, com actuações nas casas típicas, em programas de rádio e televisão,
nacionais e internacionais. No auge da sua carreira artística, celeste
Rodrigues foi também convidada a gravar para a BBC em Londres, a convite de
Richard Engleby. E, no decurso de todos estes anos de actividade intensa, teve
oportunidade de passar por algumas das maiores cidades do mundo.
Apesar
das sucessivas comparações com Amália Rodrigues, sua irmã, Celeste Rodrigues
possui uma autenticidade única, uma forma singular de interpretação, patente
nos temas do seu repertório, como os populares “A lenda das algas” (Laierte
Neves – Jaime Mendes), “Saudade vai-te embora” (Júlio de Sousa), “O meu xaile”
(Varela Silva), ou o tema de Manuel Casimiro “Olha a mala”, que se tornou o seu
maior êxito de vendas, entre os quase 60 discos que gravou. Celeste foi
uma das primeiras Fadistas a realmente internacionalizar-se, cantando em
variadíssimos países e nos grandes palcos mundiais, onde podemos destacar,
entre outros, o Concertgebouw em Amesterdão, o Carnegie Hall em Nova York ou o
Cité de la Music em Paris.Corre o ano de 2005 quando Ricardo Pais, director do
Teatro Nacional São João, a desafia a participar no espectáculo "Cabelo
Branco é Saudade" ao lado de outras três grandes vozes do Fado: Argentina
Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro.Mais recentemente, um dos
momentos altos da sua carreira é a edição do álbum “Fado Celeste”, editado em
2007 na Holanda, e que reúne fados tradicionais e inéditos com letras de
autores contemporâneos, como Helder Moutinho e Tiago Torres da Silva. Nesse
mesmo ano, em Outubro, decorreu no auditório do Museu do Fado uma homenagem à
fadista, iniciativa da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, num
reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e a regularidade de
uma carreira.” (declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à
agência Lusa). Em 2010, estreia o documentário sobre a sua vida, intitulado
Fado Celeste e realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva. Em 2015 em jeito de
homenagem pelos seus 70 anos de carreira, a secção Herat Beat do festival
Doclisboa, abre com uma remontagem desse mesmo documentário, intitulado apenas,
Celeste. Em 2012 é lhe atribuído pelo Presidente da República o grau de
Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.
Celeste
Rodrigues faleceu a 1 de Agosto de 2018. A 21 de Março de 2019, no CCB, vários
fadistas prestaram-lhe homenagem num concerto intitulado "Fado
Celeste", com direcção de Diogo Varela Silva.
Fonte:MUSEU
DO FADO
“Guitarra
de Portugal”, 15 de Setembro de 1946;
“A Voz
de Portugal”, 01 de Outubro de 1956;
"Álbum
da Canção", nº 51, 01 de Maio de 1967;
“Única”,
14 de Abril de 2006;
“Cabelo
branco é saudade” (2005), programa do espectáculo, Porto, Teatro Nacional de
São João;
https://www.ccb.pt/Default/pt/Programacao/Musica?a=1426