Aqui quero: Divulgar aqueles que deram a voz ás minhas palavras. Compartilhar com todos,o pouco que sei sobre o Fado. Divulgar e demonstrar que no Porto, também há Fado.
junho 30, 2010
22 ANOS DE FADO 1988/2010
GERAÇÃO CRIATIVA
Todos recordamos são lembranças
Dos tempos de miúdo a brincadeira
Mas hoje já não se vêm crianças
Brincarem como nós desta maneira
Onde estão o arco e a gancheta
Cow-bois com pistolas de madeira
As flechas feitas de vareta
Peão bico-de-lança e faniqueira
Crianças no mundo sempre as houve
Mas minha geração foi criativa
Jogar hóquei com troços de couve
E guiador de arame p’ra corrida
A bola de trapos e a casquinha
Brincar ao eixo e ao bom-barqueiro
Jogarmos ao pincha e ao virinha
E fazermos dos botões dinheiro
Juntar vitórias e procurar
O tal bacalhau com esperança
Mas... Como é bom hoje recordar
Brincadeiras de quando era criança
Fado Isabel / Fontes Rocha
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NÃO CHEGA SÓ A PAIXÃO
Não canta o fado quem quer
Diz o povo e com razão
Ao fado como a mulher
Não chega só a paixão
O fado e lindo e bonito
Com garganta e bem dizer
Por isso digo e repito
Não canta o fado quem quer
Quem nunca tiver amado
Com muita, muita emoção
Não deve cantar o fado
Diz o povo e com razão
Com rimas bem escolhidas
Diz-se tudo o que se quer
Até palavras sentidas
Ao fado como a mulher
É preciso por a par
A garganta e o coração
Para o fado se cantar
Não chega só a paixão
2003 / JOAQUIM BRANDÃO
Fado Rosita / Joaquim Campos
VIVES NO MEU PENSAMENTO
Não me sais do pensamento
Tu andas sempre comigo
A cada hora e momento
Meu amor falo contigo
Para te ver a fingir
Basta meus olhos fechar
E tu lá vens a sorrir
À minha mente a brincar
À noite sonho contigo
E adormeço num beijo
Mas durmo p’ra meu castigo
Num sono feito desejo
E quando me ponho a pé
Lá começa o meu tormento
Sabe-me a beijo o café
Não me sais do pensamento
MINHAS PALAVARS SENTIDAS
ADIA TEU FADO
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Quando as pombas dos teus olhos
Vieram nos meus pousar
Trouxeram ternura aos molhos
E desejos por desvendar.
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Depois vi no teu sorriso
Um Sol como nunca vi
E nada mais foi preciso
Para ficar louco por ti.
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Quando teu corpo ondulou
Em melodias de mar
Senti que o meu se afogou
Em sonhos por inventar.
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Em teus gestos vi bailados
Que traduzem sentimentos
São carícias nos teus fados
Mas para mim são tormentos.
RUSGA DA SÉ EM 1º LUGAR
junho 14, 2010
22 ANOS DE FADO 1988/2010
1999 / MÁRIO RUI
Fado Carlos da Maia / Carlos da Maia
MINHA MÃE POR CARIDADE
Minha mãe por caridade
Diz-me se a felicidade
Existe ou é ilusão
Eu tenho andado a procura
Mas só encontro amargura
Dentro do meu coração
Disseste que a encontraste
Mesmo à hora em que beijaste
Meu pai que tanto adoravas
E no dia em que eu nasci
Disseste que esteve aqui
Quando a mim m’embalavas
Mas meu pai Deus o levou
E eu a ti mãe, só te dou
Dor com a minha loucura
Uma vida de tormentos
Com tão pouquinhos momentos
D’alegria e de doçura
Minha mãe já entendi
Mesmo agora descobri
Dentro do peito a verdade
O mistério e bom de ver
Dar amor e receber
E é isto a felicidade
2002 / MELANIE
Fado Marceneiro / Alfredo Marceneiro
FECHO OS OLHOS P’RA TE VER
Nem adeus me disseste
Um beijo apenas me deste
Tão leve que o ar levou
Com a pressa que partiste
Em meus olhos tu não viste
A saudade que ficou
E no mar da tua ausência
Eu afogo esta carência
Que sinto em te não ver
É virado p’ra distância
Que se mede a importância
Que um grande amor pode ter
Fecho os olhos p’ra te ver
Vejo um poema a crescer
Neste fado que escrevi
Volta amor por caridade
Já não suporto a saudade
Nem posso viver sem ti
2002 / MELANIE
Fado Vianinha / Francisco Viana
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LOUCA LOUCURA
Se o andamos a viver
E é tanta a nossa ternura
Porque mentes ao dizer
Qu’este amor é uma loucura
É natural que sintas
Desejos como inda há pouco
Só é triste que tu mintas
Chamando este amor de louco
No momento de beijar
Nesse minuto sublime
Loucos somos por amar
Mas a loucura redime
A verdadeira loucura
E não te ter só p’ra mim
E viver nesta amargura
Duma loucura sem fim
MINHAS PALAVRAS SENTIDAS
Recordo como era lindo o S. João do meu bairro.
A Lapa, sempre fiel ás tradições, ficava em festa no mês de Junho com os santos populares.
Cada “Ilha”, rua ou viela, largo ou escadinhas, eram enfeitadas com “bambolins”e balões feitos em papel de seda às cores. Os cheiros a manjerico e sardinhas, misturavam-se com as orvalhadas daquela noite sagrada e purificadora. Haviam foguetes e balões eram lançados ao ar. A partir da meia-noite, depois do café e pão torrado nas fogueiras da rua, os vizinhos juntavam-se espontaneamente, era então esse rancho de gente, que munidos de alhos-porros, molhos de cidreira, ramalhos com balões (para iluminar a noite), testos e diversos instrumentos, partiam de rua em rua cantando ao S. João.
Ai…Eu fui ao S. João à Lapa
Ai…E da Lapa, fui ao Bonfim
Ai…Estava tudo embandeirado
Ai…Com bandeiras de cetim
E assim nasciam as RUSGAS.
A alegria a as cantigas, as cascatas e toda a magia daquela noite, ficou-me na memória e faz parte da minha alma de portuense.
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As Marchas de Lisboa, não são espontâneas. Fazem parte de um cartaz turístico da cidade, previamente pensadas, têm um tema (como os desfiles do Samba) e com todo o seu visual plástico e estético de luz e cor, desde os arcos, ás coreografias ou marcações, passando pelo guarda-roupa, conferem-lhe um ar “postiço” de um povo que sendo bairrista e bem castiço, se encontra mais nos arraiais de Santo António, entre as vielas dos bairros populares, nos bailaricos e na sardinha assada.
De tão artificial que são as Marchas, chegam a forrar o asfalto com a linda “Calçada portuguesa” e até o Jet7 é convidado para desfilar como padrinhos dos bairros populares, que nada têm a ver com eles. Claro que nunca falta a transmissão televisiva em directo, porque Lisboa é Portugal e o resto é paisagem. Honra seja feita aos grandes compositores e letristas, que nos têm dado ao longo dos anos, as mais adeandes compositores e letristas, que nos tverdadeiras pérolas de criatividade da música popular portuguesa.
Em jeito de penitência, fico entristecido ao ver os desfiles das Rusgas na minha cidade. Da avenida “roubaram-nos” a linda Calçada portuguesa. Apesar de serem as festas da cidade, a Câmara, nem um festão, balões e luz põe a ornamentar as ruas por onde passa o desfile. Os padrinhos das Rusgas, foram durante anos, figuras da TV ou artistas vindos da capital, talvez com vergonha da Rosita, da Florência, do Manuel Morais do Nelson Duarte ou da Natércia Maria, ou ainda, de tantas personalidades que dão prestigio a esta cidade.
Mas ainda me orgulho de ver o velhinho bairro Sé, as ufanas freguesias da Vitória e de S. Nicolau, entre outras freguesias, trazerem as suas tradições à baixa da cidade (ou à Praça, como cá se diz), tal como a Mouraria, a Madragoa ou Alfama, levam à sua cosmopolita sala de visitas da capital, Claro que não temos a RTP (nem em diferido), resta-nos o Porto Canal e os parcos subsídios da câmara ás colectividades, para fazer (mesmo assim), a festa mais solidária e democrática do mundo.