Manuel
Augusto Martins Tristão da Silva, filho de Francisco Tristão da Silva e Teodora
Augusta Martins, nasceu a 18 de Julho de 1927 na Freguesia da Penha, em Lisboa.
Quando Manuel Tristão da Silva inicia a escola passa “os seus momentos livres a
cantar, para o que demonstrava decidida vocação.” (“Álbum da Canção”, Nº29, 1
de Julho de 1965). E, no início de 1937, quando contava apenas 9 anos, foi
contratado pelo empresário José Miguel, para actuar aos domingos na «matinée»
do Café Mondego. Nesta altura usava o nome Manuel da Silva, mas ficou conhecido
pelo “Miúdo do Alto do Pina”. Conclui a instrução primária e torna-se empregado
numa drogaria na Graça, de onde transita para outra situada na Rua Morais
Soares e, mais tarde, aprende o ofício de serralheiro. Ainda assim, e apesar de
contar com apenas 15 anos, estas actividades profissionais não o impedem de
prosseguir a carreira artística, cantando em muitas das sociedades de recreio
e, posteriormente, nas casas de Fado de Lisboa. Tristão da Silva fez parte dos
primeiros elencos da Sala Júlia Mendes, no Parque Mayer, e do Café Monumental,
na Rua Carvalho Araújo. Com o sonho de se tornar um artista mais popular, o
fadista faz, várias vezes, provas para entrar nos quadros da Emissora Nacional,
mas acaba por ser recusado. Entretanto vai cumprir o serviço militar
obrigatório e é incorporado no Regimento de Artilharia Ligeira 3, onde lhe é
permitido sair para cantar nas noites em que tem contratos de espectáculo.Com
cerca de 22 anos, depois de terminado o serviço militar, Tristão da Silva é
apresentado ao maestro Belo Marques, então director musical da editora Estoril,
sendo contratado por Manuel Simões para fazer algumas gravações discográficas,
acompanhado pela orquestra de Belo Marques. Datam de 1954 dois grandes êxitos
que trouxeram a Tristão da Silva a consagração junto do público: o tema “Nem às
Paredes Confesso”, de autoria de Max e Artur Ribeiro, e “Maria Morena”, com
letra de Radamanto e música de Casimiro Ramos.
Admitido
como artista da Emissora Nacional passa a apresentar-se em vários programas de
rádio, obtendo naturalmente grande sucesso. Tristão da Silva actua, em 1955, na
Ilha da Madeira e, no ano seguinte, nos Açores. O fadista faz, também,
gravações em Espanha e uma deslocação a África, para além de ser dos primeiros
artistas a apresentar-se nos programas da RTP, então transmitidos a partir da
Feira Popular. Em 1960 viaja até ao Brasil, onde acaba por permanecer durante 4
anos, para actuar na Rádio e na TV Tupi do Rio de Janeiro e nas várias casas
típicas portuguesas da cidade. Participa em peças teatrais, nomeadamente com
Osvaldo Lousada numa peça intitulada "O Assunto É Mulher ".
Posteriormente desloca-se a São Paulo, onde também actua na Rádio, na Tv e nas
principais “boites” da cidade; e faz uma digressão que o leva ao Recife, Baía,
Porto Alegre, João Pessoa, Pelotas, Fortaleza e Brasília. Em Porto Alegre é
contratado para uma nova digressão desta vez para actuar na Bolívia, Chile,
Paraguai, Argentina, Uruguai e Perú. De salientar na sua estadia no Brasil o
prémio “Sassy”, que recebe em 1961, em São Paulo, destinado “à melhor atracção
internacional do “music-hall” em exibição naquela capital.” (“Álbum da Canção”,
Nº29, 1 de Julho de 1965). Tristão da Silva regressa a Lisboa em 1964, pela mão
de Vasco Morgado que o contrata para actuar na revista "Férias em
Lisboa". Nesta altura, o fadista apresenta-se, também, em programas da
RTP, e canta na casa típica de Fernanda Maria, o Lisboa À Noite. Tristão da
Silva passa pelos elencos das mais populares casas de Fado de Lisboa , como O
Faia, A Tipóia, A Parreirinha de Alfama, o Forcado ou O Luso, e canta, também,
em sessões cinematográficas do Politeama e em peças teatrais como a “Marujinhos
à Vela” ou a já mencionada “Férias em Lisboa”, em cena respectivamente nos
teatros Maria Vitória e Monumental.Ilustrativas da sua popularidade são as
quadras que o poeta Carlos Conde lhe dedica, na sua rubrica “Galarim da
Semana”:
Justamente
consagrado / Todos sabem que Tristão
Tem
sido grande no Fado / P’ra ser maior na canção!
Não
pediu nada a ninguém / P’ra chegar onde chegou;
O
prestígio que hoje tem / A seu tempo o conquistou!
O
Tristão não é dos tais / Que julgam muito saber,
Por
isso é que vale mais / Do que o que julga valer!”
(revista
“Plateia”, s/d.)
Viria
a falecer, com 50 anos, num brutal acidente de viação em Janeiro de 1978,
quando regressava de uma actuação na casa de Fados O Forcado. Terminou assim,
abruptamente, uma carreira recheada de grandes êxitos, como os já citados, “Nem
às Paredes Confesso” e “Maria Morena”, ou ainda “Da Janela do Meu Quarto”,
“Aquela Janela Virada P’ró Mar” e “Calçada da Glória”. Temas interpretados em
estilo romântico que a voz grave e fortemente personalizada de Tristão da Silva
eternizou.
Em
2004, a Câmara Municipal de Lisboa prestou a sua homenagem ao cantor,
atribuindo o seu nome a um jardim situado nas freguesias do Alto do Pina e do
Beato.
Fonte:museu
do fado
“A Voz
de Portugal”, 10 de Abril de 1957;
“Diário
Ilustrado”, 9 de Março de 1960;
“Álbum
da Canção”, Nº29, 1 de Julho de 1965;
“Rádio
& Televisão”, 26 de Abril de 1969;
“Galarim
da Semana”, in revista “Plateia”, s/d.
“Diário
Popular”, 10 de Janeiro de 1978.
“Tristão
da Silva, 1927-1978”, Edição CML, Comissão Municipal de Toponímia, Julho de
2004.
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