junho 15, 2009

SABIA QUE...



ALBERTO JANES

Depois de estudar na Escola Superior de Lisboa e em Coimbra acabou por se licenciar em Farmácia na Faculdade de Farmácia do Porto, em 1934. Já nessa altura era notada a sua aptidão inata para o espectáculo musicado ao ser autor de diversas récitas. Numa delas, intitulada “As Pupilas do Senhor Doutor”, Alberto Janes, para além de todo o trabalho de composição de letras e músicas, desempenhou o papel de “compére”. Após a conclusão do seu curso (foi o primeiro reguenguense a diplomar-se naquela Faculdade) estabeleceu-se em Reguengos como proprietário de uma farmácia que já era do pai.
Alberto Janes ficou e é conhecido mundialmente pelos poemas e músicas de que foi autor. A sua veia artística era imensa, desde pequenino. Eram frequentes os encontros com amigos no Café Central, em Reguengos, onde Alberto Janes tocava e compunha, animando as tardes e os serões.
Alberto Janes prontificou-se um dia, nos anos 50 do século passado, a levar um fado a Amália Rodrigues, no seguimento duma conversa havida em Reguengos com um amigo comum aos dois. Lá “apareceu timidamente com umas partituras debaixo do braço… disse que tinha ‘umas coisas’ que achava que eram boas para que cantasse…Quem rodeava Amália nesse dia teve uma opinião negativa acerca de Alberto Janes… que era um desconhecido, que a música dele não dava para Amália cantar, etc.… Contudo, Amália, com o seu ‘olho clínico’, a sua sensibilidade, contrariou essas opiniões e gravou o ‘Foi Deus’. Seguiram-se outros tantos trechos, o célebre ‘Vou dar de beber à dor’, o ‘É ou não é’, ‘Caldeirada’ que, tal como Amália vaticinara, seriam sucessos em qualquer parte do mundo. Efectivamente, todos esses trechos de Alberto Janes deram a Amália ‘discos de platina’
E foi a partir desta visita a casa de Amália Rodrigues (que sobre ele referiu “Janes era um bom homem, cheio de coração. Era a pessoa ideal para mudar o mundo. Era um Senhor”) que Alberto Fialho Janes saltou para a ribalta do mundo do fado: “Se há alguma coisa a descobrir em mim foi a Amália que o fez. O que sou, se sou alguma coisa, devo-o, claro, à habilidade natural que tenho e à Amália: se não fosse esta nunca chegaria a ser conhecido no aspecto artístico.”. Disse Alberto Janes numa.
Após o êxito de “Foi Deus” a que se juntaram problemas de ordem familiar e financeira, Alberto Janes muda nos anos 60 do século passado a sua residência para Oeiras, após vender a sua farmácia de Reguengos. Foi professor de Ciências na Escola Técnica do Cacém e foi, durante cerca de 10 anos, Director da Farmácia Estácio, em Lisboa.
Alimentou durante anos o sonho de ver o seu trabalho artístico vingar no teatro musicado, mas nunca chegou a alcançá-lo porque lhe foram sempre fechadas as portas. Foi autor de inúmeras composições, letra e música, muitas delas transformadas em êxitos enormes de vendas: Foi Deus, Vou dar de beber à dor (A casa da Mariquinhas), É ou não é, Caldeirada, Ao poeta perguntei, Vai de roda agora, Lá na minha aldeia, Oiça lá ó Senhor Vinho e muitas outras, cantadas por nomes distintos da canção portuguesa como Amália Rodrigues, Francisco José, Fernando Machado Soares, Hermínia Silva ou Alfredo Marceneiro.
Recentemente, Mário Moita recuperou a tradição oitocentista do fado ao piano lançando e musicando um poema inédito de Alberto Janes, “O luar é meu amigo”. Dez anos após o seu falecimento um grupo de amigos prestou-lhe homenagem colocando uma placa em mármore na casa onde nasceu e viveu, em Reguengos. A cidade de Reguengos de Monsaraz perpetuou a figura de Alberto Fialho Janes baptizando uma das suas ruas com o seu nome.

Fonte: Jornal “A Palavra”

Nenhum comentário: