FOGUEIRA DO TEMPO
É na fogueira do tempo
Que meu tempo se consome
Na raiva de não ter tempo
E morrer com essa fome
.
A chama que a vida tem
Vai ardendo hora a hora
A minha esp’rança também
Vai morrendo vida fora
Foge-me o tempo então
Como areia entre os dedos
Só não foge esta impressão
Que tenho de tantos medos
Quando acabar o meu tempo
Acabará p’ra mim também
Este lutar contra o tempo
De querer ser na vida alguém
Se um dia alguém tiver tempo
De lembrar que eu existi
Que não seja por lamento
De algum tempo que perdi
NÃO REZO HÁ TANTO TEMPO
Eu guardo os pecados meus
Na vida como um tormento
Já não sei falar com Deus
Já não rezo há tanto tempo
Às vezes fico indeciso
Se são pecados mortais
Quando de Deus eu preciso
Ele não me fala mais
Se não é pecado amar
E se o fado é oração
Então eu rezo a cantar
E de Deus tenho o perdão
Muitos não são capazes
De encarar seus pecados
Eu com Deus já fiz as pazes
Paguei-os todos em fados
.
ARRUMADO NO SOTÃO
Eras sonho adormecido
Que á muito tempo guardava
No sótão das ilusões
Um fado quase esquecido
Qu’eu há muito não cantava
Nas minhas recordações
Mas quando ontem te vi
Eu pude rever também
Quanto o amor pode durar
Foi então que compreendi
Que há feridas que um homem tem
Que levam tempo a curar
Tu és sonho do passado
Que vou de vez qualquer dia
No meu sótão arrumar
Poema lindo dum fado
Em soberba melodia
Mas que outro anda a cantar
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