fevereiro 26, 2012

HOMENAGEM AO FADO



VASCO DE LIMA COUTO




«Eu sou um poeta. Maldito, mas poeta. Sou, também, actor. Incómodo, mas actor. Como actor, empresto. Como poeta, dou. Entre estas duas posições, vivo. Não represento nenhuma escola, porque não preciso de falar ao tempo do meu povo. Sou o tempo do meu povo! Se algum mérito possuo, é o de não ser intelectual partido, para intelectuais de partido. Canto como sei e sei como sinto. Não dou respostas convenientes, porque - felizmente, sou inconveniente. Entre o homem chateado e a criança maravilhada, rasgo o tempo que possuo. O mais que queiram ver, em mim, é estrume de animal que mastiga a comida que não merece e que o povo paga.»



Vasco de Lima Couto reflectia sobre as coisas do seu tempo. Pensava sobre a vida cultural e social do seu país, principalmente quando se embrenhava nelas.



Nascido no Porto a 26 de Novembro de 1923, vem a falecer em Lisboa no dia 10 de Março de 1980. Estreou-se nos palcos em 27 de Março de 1947 "empurrado" por Alves da Cunha. Representou em mais de 40 peças ao longo de toda a sua carreira, nunca acusando qualquer atitude de concessão ao "status" ou amolecimento das linhas mestras da sua personalidade criativa e, por vezes, revolucionária.
Por volta de 1952, Lima Couto volta ao Porto para se juntar ao Teatro Experimental, onde permanece cerca de oito anos. Aí, representou peças tão importantes como: "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Miller, entre outras.
Em 1960 volta para a capital portuguesa onde representará a figura de D. Afonso IV na peça "Castro", de António Ferreira. "Teve enorme êxito, o qual, segundo as próprias palavras, se deve à direcção de Paulo Renato".
Durante dois anos trabalhou para o Teatro da Câmara - Estufa Fria, sob a direcção de Pedro Bom, mas considerava o tipo repertório lá representado como "chato e despido de qualquer realidade".
O grande sucesso vem com o "Mercador de Veneza", de Shakespeare, onde Vasco de Lima Couto representava o papel de Lancelote Gobbo. "O êxito foi tal que, ao sair de cena, num dos melhores momentos da peça, o público interrompia a representação com uma salva de palmas".
Em 1966 vai para o Teatro da Trindade. Um ano depois vai para o TEL (Teatro Experimental de Lisboa), mas a situação era desastrosa. Vasco de Lima Couto viu-se sem dinheiro, sendo "obrigado" a ir trabalhar para a televisão, em peças que em nada lhe interessavam. Chega mesmo a aceitar o convite de Vasco Morgado para representar o "Vison Voador", no Villaret.
Em 1971 concorre ao "Festival da Canção" com o célebre e polémico "Zé Brasileiro Português de Braga", para a voz de António Sala.
Conhece finalmente África, por quem se apaixona. Em Angola, inicia uma série de programas na Emissora Oficial, como colaborador e assistente literário. Era o programa "Cantar de Amigo", dedicado à divulgação da poesia portuguesa. Aí, "muitos dos que sistematicamente o ignoravam na crítica, na presença e na divulgação, eram citados sem qualquer ressentimento".
Nos inícios de 1974, inexplicavelmente, Vasco de Lima Couto regressa a Portugal. Com grande mágoa encontra António Pedro afastado do TEP. Vai para a Cornucópia, que depressa abandona para se fixar uns meses em Paris. Ao regressar, ingressa na Companhia Maria Matos para representar o "Encoberto", de Natália Correia. No entanto surge numa vida nocturna intensa, cada vez mais ligado ao fado. No "Painel do Fado", na "Taberna de S. Jorge" (no Porto) ou na "Taberna do Embuçado", Vasco de Lima Couto escreve, lê e ouve cantar a sua poesia. Grandes nomes da canção (ligeira e fado) cantam as suas palavras: Amália Rodrigues, Vasco Rafael, Carlos do Carmo e Simone de Oliveira, entre outras.

Vasco de Lima Couto sabia que, através do tumulto emocional, ideológico e politico, ele haveria de desentender-se com o "estado instituído", pois isso acontecera antes, acontecera sempre; e, como antes, como sempre, o "estado instituído", não lhe perdoaria e fechar-lhe-ia as portas. Mas sabia também que havia duas coisas que nunca ninguém lhe poderia tirar: Uma, a liberdade que lhe advinha de não ter nada para perder; a outra, a sua condição e essência de poeta."







ANTÓNIO BOTTO





Escritor português, natural de Concavada, Abrantes, e que mais tarde se estabeleceu no bairro de Alfama, em Lisboa. Fernando Pessoa, de quem foi amigo, Gaspar Simões e José Régio escreveram, ao longo dos anos 20 e 30, vários artigos sobre a sua poesia.
Estreou-se, no mundo da literatura, com as colectâneas poéticas Trovas (1917), Cantigas de Saudade (1918) e Cantares (1919), celebrizando-se com a publicação de Canções (1921), que Fernando Pessoa traduziria para inglês em 1930. A segunda edição desta obra, datada de 1922, foi apreendida, tornando-o num poeta maldito. Em 1930 surgiu uma terceira edição que englobava os livros de poemas Motivos de Beleza (1923), Curiosidades Estéticas (1924), Pequenas Esculturas (1925), Olímpiadas (1927) e Dandismo (1928) aos quais, dez anos depois, numa quinta edição, seriam acrescentados Ciúme (1934), Baionetas da Morte (1936), A Vida Que Te Dei (1938) e Os Sonetos (1938), livros entretanto publicados. As obras poéticas O Livro do Povo (1944) e Fátima — Poema do Mundo (1955) permaneceram excluídas de todas estas edições.
A sua poesia caracteriza-se por algum decadentismo, associado à tendência modernista de vivência do quotidiano, pelo sentido do ritmo e a limpidez do estilo. Alguns dos seus melhores momentos poéticos estão nas descrições do quotidiano cinzento do bairro de Alfama ou na celebração da beleza masculina. Para além da poesia, Botto dedicou-se também à ficção, género que dominava com bastante à vontade e do qual se destacam as obras António (1933), Isto Sucedeu Assim (1940), Os Contos de António Botto (histórias para crianças, de 1942) e Ele Que Diga se Eu Minto (1945). Escreveu ainda a peça de teatro, em três actos, Alfama (1933), e colaborou com Fernando Pessoa numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos



(Muitos fadistas cantam poemas deste autor, como João Braga “Canções”)



Fonte: Wikipédia

Um comentário:

Vasco Luís Martins disse...

Vasco Luís de Lima Ferreira Couto nasceu no número 121 da Rua de Sá da Bandeira, freguesia de Santo Ildefonso, na cidade do Porto, a 26 de novembro de 1924, e faleceu na sua casa da Rua General Leman, número 81 - 1º, em Lisboa, a 10 de março de 1980, aos 55 anos, na sequência de um ataque cardíaco. Era meu tio materno (irmão mais novo da minha mãe, essa sim nascida em 23 de outubro de 1923) e foi meu padrinho de batismo. Todos os sítios online que referem o seu nascimento em 1923 estão completamente errados, já que a progenitora nunca poderia ter duas gestações diferentes com um mês de intervalo. O erro com a data surgiu com a publicação do livro "Um Canto de Vida e Morte", que compila alguns poemas inéditos de Vasco de Lima Couto, da autoria do escritor Rui de Brito e do jornalista João Aguiar, para assinalar a inauguração, em março de 1981, da Casa-Museu com o nome do poeta na vila ribatejana de Constância, e que dá como certo o ano de nascimento 1923.