junho 14, 2010

MINHAS PALAVRAS SENTIDAS

AS RUSGAS


Recordo como era lindo o S. João do meu bairro.

A Lapa, sempre fiel ás tradições, ficava em festa no mês de Junho com os santos populares.

Cada “Ilha”, rua ou viela, largo ou escadinhas, eram enfeitadas com “bambolins”e balões feitos em papel de seda às cores. Os cheiros a manjerico e sardinhas, misturavam-se com as orvalhadas daquela noite sagrada e purificadora. Haviam foguetes e balões eram lançados ao ar. A partir da meia-noite, depois do café e pão torrado nas fogueiras da rua, os vizinhos juntavam-se espontaneamente, era então esse rancho de gente, que munidos de alhos-porros, molhos de cidreira, ramalhos com balões (para iluminar a noite), testos e diversos instrumentos, partiam de rua em rua cantando ao S. João.

Ai…Eu fui ao S. João à Lapa

Ai…E da Lapa, fui ao Bonfim

Ai…Estava tudo embandeirado

Ai…Com bandeiras de cetim

E assim nasciam as RUSGAS.

A alegria a as cantigas, as cascatas e toda a magia daquela noite, ficou-me na memória e faz parte da minha alma de portuense.

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AS MARCHAS


As Marchas de Lisboa, não são espontâneas. Fazem parte de um cartaz turístico da cidade, previamente pensadas, têm um tema (como os desfiles do Samba) e com todo o seu visual plástico e estético de luz e cor, desde os arcos, ás coreografias ou marcações, passando pelo guarda-roupa, conferem-lhe um ar “postiço” de um povo que sendo bairrista e bem castiço, se encontra mais nos arraiais de Santo António, entre as vielas dos bairros populares, nos bailaricos e na sardinha assada.

De tão artificial que são as Marchas, chegam a forrar o asfalto com a linda “Calçada portuguesa” e até o Jet7 é convidado para desfilar como padrinhos dos bairros populares, que nada têm a ver com eles. Claro que nunca falta a transmissão televisiva em directo, porque Lisboa é Portugal e o resto é paisagem. Honra seja feita aos grandes compositores e letristas, que nos têm dado ao longo dos anos, as mais adeandes compositores e letristas, que nos tverdadeiras pérolas de criatividade da música popular portuguesa.

Em jeito de penitência, fico entristecido ao ver os desfiles das Rusgas na minha cidade. Da avenida “roubaram-nos” a linda Calçada portuguesa. Apesar de serem as festas da cidade, a Câmara, nem um festão, balões e luz põe a ornamentar as ruas por onde passa o desfile. Os padrinhos das Rusgas, foram durante anos, figuras da TV ou artistas vindos da capital, talvez com vergonha da Rosita, da Florência, do Manuel Morais do Nelson Duarte ou da Natércia Maria, ou ainda, de tantas personalidades que dão prestigio a esta cidade.

Mas ainda me orgulho de ver o velhinho bairro Sé, as ufanas freguesias da Vitória e de S. Nicolau, entre outras freguesias, trazerem as suas tradições à baixa da cidade (ou à Praça, como cá se diz), tal como a Mouraria, a Madragoa ou Alfama, levam à sua cosmopolita sala de visitas da capital, Claro que não temos a RTP (nem em diferido), resta-nos o Porto Canal e os parcos subsídios da câmara ás colectividades, para fazer (mesmo assim), a festa mais solidária e democrática do mundo.

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