julho 27, 2008

À JANELA DO FADO (Livro)

(continuação)
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Martinho conheceu a Lizete numa noite de fado no “Chalé” (restaurante oficial do Clube do Fado), ficou deslumbrado com o seu olhar, que não descansou enquanto não a conheceu melhor. É um sonhador e a amizade que tem por ela, secretamente e cada mais, vai evoluindo para um paixão que não quer assumir, por medo e em nome da tal estabilidade familiar, também nunca confessou o que lhe vai na alma, deixa as coisas correrem naturalmente e até parece que não vão nada mal, a avaliar pela última conversa que teve com ela no café Florida, onde se encontram todos os dias depois do almoço por trabalharem ali perto.

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Lizete Cruz é funcionária pública no Arquivo de Identificação, tem mais de trinta anos de serviço. É mãe solteira e assume-se como uma mulher independente, o que não tira de quando em vez, ter um relacionamento com alguém mas sempre como ela diz: — Sem compromisso.
Teve a filha muito cedo com alguém, que diz à muito ter esquecido, alem disso, considera a melhor asneira que fez na vida. Adora a filha e tudo faz por ela, a Leonor é o seu orgulho e quase finalista na faculdade de Direito. Gosta de a ouvir cantar o fado, embora pense que talvez para ela, seja um capricho passageiro.
Tem um modo extravagante de vestir, pela mania de querer parecer mais nova do que é. Vive só com a filha numa casinha que a mãe lhe deixou para os lados das Antas, claro que também é uma aficionada do FêCêPê e não perde um jogo, no estádio do Dragão onde tem dois lugares cativos, sim porque a Leonor vai pelo mesmo caminho pintado de azul e branco.
Tem uma pequena paixão pelo Martinho desde que o conheceu a dizer poesia no “Chalé”, lugar onde foi pela primeira vez, levada pelos ideais afadistados dum colega de secção onde trabalha. Foi aí que sentiu e bebeu todas as palavras do Martinho Conde, agora, desconfia que muita da poesia que ele diz é mesmo de sua autoria, embora ele diga sempre que não. Esta desconfiança vem-lhe duma conversa sobre os heterónimos de Fernando Pessoa, aquando de uma troca de impressões sobre este autor. De heterónimos passou-se a pseudónimos e quase concluiu que existe um Martinho Conde com o pseudónimo de Olecram, um dos seus autores preferidos.
É uma romântica praticante, mas lá no fundo anseia um dia pôr em pratica toda a sua ideologia, ainda não descobriu é com quem. Possui uma enorme colecção de lingerie, porque adora rendas, sedas e todas as peças de vestuário íntimo, cuja textura do tecido seja macia e leve.
Como a Lizete diz: “Ser sexy não é pecado! É apenas exercer o poder de sedução que Deus me deu.”
Conhece a mulher do Martinho, compartimenta-a e tem por ela uma ternura, que não sabe se é uma mistura de compaixão e ciúme, ou raiva por não ter chegado primeiro...

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