julho 31, 2008

À JANELA DO FADO (Livro)

(continuação)

O Albérico Pereira, é uma personagem demais conhecida no ambiente do fado no Porto. Fez parte da coordenação e apresentação, do programa da rádio “Fado Vadio”, coadjuvando José Neves aos domingos de manhã. Deve-se a ele, a aparição de muitas das vozes que hoje preenchem o panorama do fado na cidade. Dono de uma forte personalidade que sabe congregar à sua volta, um basto leque de amigos em todos os quadrantes do fado.
Quanto ao Márcio é empregado do Caminho-de-ferro há muitos anos, leva uma vida quase agitada, contrariando à sua maneira (aparente) de homem calmo, isto porque não dispensa um copo num “Buteco”, nome que ele dá aos lugares onde vai beber o seu whisky, geralmente em boa companhia feminina.
O ser casado, nunca o impediu de ter estas pequenas fugas de bom vivente na noite que conhece como ninguém, sempre fez muitos amigos e adora a noite. Então pelo fado… tem uma paixão que muitos apontam de exagero. É um grande entendido na matéria e no meio do fado, não há quem não conheça o Márcio da CP.
É o autor da frase mais paradoxal que ficou celebre no ambiente fadista:
” No fado falasse calado”.
Homem seríssimo, em contas ninguém o bate, também por isso foi convidado para tesoureiro do Clube do Fado do Porto.
Andou louco de paixão por uma fadista extremamente sedutora, mulher fascinante e de grande beleza com uma voz muito castiça, divorciada de um fadista conhecido de quem tinha uma filha. O Márcio chegou mesmo, por algum tempo, a viver com ela para os lados da Foz. Não fora a intervenção do Marques junto da família e desta vez a dona Laurinda não lhe perdoava, se é que alguma vez esqueceu...
O Márcio é uma figura de homem com charme, cabelo um pouco grisalho e sempre impecavelmente vestido, com seus fatos de trespasse e a gravata que nunca prescinde. Um verdadeiro cavalheiro no trato, então com mulheres…
Na escala dos seus gostos, põe sempre os filhos à frente, depois vêem sucessivamente: As mulheres, os amigos, o fado e os copos. Enfim, o Márcio é um marialva dos tempos modernos, com a sua arrogante dose de machismo.

O maior amigo do Márcio sempre foi o Marques, homem de convicções sólidas, amigo sempre presente em todos os momentos, ombro das horas más e crítico dos maus passos. Amigos de infância, passaram juntos por muitas tristezas e alegrias, desde jogar a bola na rua de pé descalço até irem juntos para a guerra nas antigas colónias ultramarinas, um para Angola e outro para a Guiné. Só mesmo a guerra os separou…
O Marques é compadre do Márcio por lhe baptizar um filho, (só mesmo o Márcio Cunha o faria entrar numa igreja), ele que é um ateu convicto….,
Conhecem-se ainda de muitos “Carnavais”, desde as lutas antifascistas antes do 25 de Abril (faziam parte dos que liam o Avante no WC do café Luar), até ao simples peditório para mandarem calcetar a rua onde moravam, porque a Junta de Freguesia não tinha verba, passando por uma empresa para colocação de alcatifas de que foram sócios e que acabaram por encerrar quando esta passou de moda.
O Marques, também faz parte da direcção do Clube do Fado do Porto, (foram os dois amigos levados pela mão do amigo comum Maciel Castro), aliás, o Marques Costa é mesmo o autor dos estatutos da associação.
Quanto à sua vida particular pouco se sabe, a não ser que é casado há muitos anos, ama a mulher e os filhos e que tenta preserva-los a todo o custo do reboliço da sua vida social.
Trabalha como encarregado de uma loja de supermercado, pertencente a uma cadeia do norte do país. Tem um nível cultural acima da média.
Adora cinema e é possuidor de uma videoteca enorme onde guarda religiosamente algumas preciosidades, a par de uma basta biblioteca onde rigorosamente, tenta juntar o filme à obra literária de onde foi feita a sua adaptação para o cinema. Então, tornasse interessante e bastante curioso, ver por exemplo: o livro “BELLE DE JOUR” de Joseph Kessel, ao lado do filme de Luís Buñuel “BELA DE DIA”, magistralmente interpretado por Catherine Deneuve. Ou ver o “BEM-HUR” de Lewis Wallace ao lado do filme de William Wyler com o mesmo nome, que teve o Charlton Heston como principal interprete. Ou ainda o “PARIS BRULE-T’-IL? De Dominique Lapierre e Larry Collins, junto ao filme “PARIS JÁ ESTÁ A ARDER? Realizado por René Clemant e interpretado por Jean-Paul Belmondo e Kirk Douglas entre outros. Claro que o Marques tem a sorte de possuir uma sala com estantes e um pequeno bar num dos cantos, para prazer dos amigos e sua vaidade.
É muito pouco conhecida a sua ligação a obras literárias, as quais assina com pseudónimo, embora todos lhe conheçam o modo crítico e acutilante, como escreve as suas crónicas semanais sobre a defesa do consumidor no semanário “Arauto das Notícias”.


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