(continuação)
Já Camilo Castelo Branco, em 1840, no seu livro “Eusébio Macário” escrevia:
…(o filho de Macário, o José Fístula era fadista de tabernas) …
…(assobiando fados cheios de saudade) …
…(o Fístula cantava-lhe um fado que punha tremuras involuntárias nas nádegas do pai; ao mesmo tempo a Custódia, lá dentro na cozinha, sacudida pelos bordões gementes da viola, fazia saracotes nos quadris, batendo o pé à frente, na atitude marafona de quem apara nos rijos fados batidos. Ela tinha no sangue um ardor de extravagâncias, uma herança viciosa de sua mãe) …
…(José Macário, fechando a porta à curiosidade da irmã e de Felícia, se permitia recitar fados e glosas de quadras obscenas) …
…(Conhecia de fama o botequim do Pepino em Cima do Muro, onde o fado batido deitava à madrugada, com entreactos de facadas e muito banzé.)
Assim se prova, que já muito antes de 1840, havia fado no Porto.
Tomando como certa a teoria que a palavra “Fado”, como diz Ruben de Carvalho em (Músicas do Fado”. Lisboa: Campo das Letras – 1994), (“…aparece associada às danças dos “Lunduns”, por volta de 1821 com o regresso da Corte do Brasil, embora a palavra já existisse derivada do latim, Fatu, com a designação de sorte; destino, sina”).
Daqui se pode inferir, que não existe grande diferença de anos entre a chegada do fado ás duas cidades portuguesas.
Será que a casa O Pepino, foi a primeira das tascas onde houve fado no Porto?
Talvez! … Mas como tudo evolui, das tascas e lugares de prostituição, como prostíbulos e bordeis, o fado saltou para as casas de fado, restaurantes, depois para retiros, agremiações e associações, (deixando de ter aquele cariz de “faca na liga” muito conotado com o fado da desgraçadinha), isto depois de ter passado pela chamada alta-roda dos salões, para de novo descer à rua e ao povo que é afinal o seu lugar, deixando mesmo assim o chamado fado aristocrata, espalhado pelos solares para ser cantado por muitos, principalmente pelos amantes da monarquia, desde Dona Maria Teresa de Noronha a Carlos Zel, ou de João Braga a João Ferreira Rosa passando pelos Câmaras, etc.
Recordo dos meus tempos de rapaz, de tascas como o Peixoto, próximo de Mouzinho da Silveira, a Vossa Casa em Sá Noronha ou do Rosaldo em Currais junto ao Bairro João de Deus. Mas lembro-me de muitas casas onde o fado foi soberano, desde as propriamente ditas Casa de Fado, até aos retiros onde num ambiente familiar, se passavam bons momentos a ouvir fado de grande qualidade, o chamado “Fado Vadio” (sem qualquer sentido pejorativo, mas que apenas define, um modo da fadistagem cantar aqui, acolá ou mais além, durante uma noite de fadistice).
(Sem qualquer ordem e conforme vou recordando, enumero nas páginas finais deste livro, quase duas centenas dessas casas, do Porto e arredores, aonde o fado morou).
Há muitas casas que não me recorda o nome, mas que foram proprietários: o Carlos Reis, o Vítor Nunes, a Ana Madalena, o António Campos e tantos outros…
Na verdade, a Rádio Festival, nos tempos de José Neves, deu a conhecer muitas delas quando fazia emissões em directo, como prova a grande quantidade de gravações feitas. Só depois, talvez por motivos de logística, começaram as emissões regulares em estúdio aos domingos, com o programa “Fado Vadio”. Mas continua a ser a rádio, que tem um programa diário de fado, à hora do almoço, há mais anos consecutivos.
Sem esquecer os concursos que organizou e promoveu, desde o famoso “Fado Gaia”, onde deu a conhecer muitas e grandes vozes do fado, até aos festivais de verão onde levava aos concelhos limítrofes do Grande Porto, fado de qualidade.
A Rádio Matosinhos, justiça seja feita, também tem no seu mapa de programação, o fado, assim como a poesia, onde já ouvi muita gente “dizer” e bem, com entrevistas a fadistas amadores muito interessantes.
Muito antes, já o Adelino Peixoto na Rádio Activa e depois na Rádio Atlântica, fazia emissões de fado com entrevistas e reportagens de muita qualidade e que muito contribuiu, para a promoção do fado nortenho.
Outras rádios existiram que deram grande cobertura ao fado, como a Rádio Paralelo em Ermesinde, com o programa “Aqui há Fado”, onde o A. Rocha, entrevistou o Carlos M. Cruz (hoje empresário, na época apresentador e colaborador da Associação de Fadistas do Norte na organização do 2º concurso de fados do Porto), na promoção do primeiro trabalho discográfico de Eduardo Alípio.
A Rádio Satélite em Gaia, que tinha um programa de fado pela manhã e onde muitos fadistas foram entrevistados, como a Rosa Cruz por exemplo.
Ainda hoje as sobreviventes Rádio Trofa e a Rádio Sanjoanense e mesmo a Rádio Lidador, continuam a passar o fado nos seus programas.
Já a televisão, que teria um papel importante na divulgação do fado, poucas vezes o traz a nossas casas. Nos últimos trinta anos, tirando o “Fado Fadinho” na TVI, o programa “Carlos do Carmo” na TV Internacional, o programa “Fados” apresentado José Pracana na RTP Açores, algumas passagens em diferido das Grandes Noites do Fado, ou programas esporádicos como a celebração de anos de carreira de alguns fadistas de elite, ou homenagens (que são sempre póstumas!), a alguns fadistas recentemente falecidos como Amália, mas relevando nomes como é o caso de Fernando Maurício ou Manuel de Almeida, poucas mais vezes o fado apareceu, a não ser pelas batutas do João Braga ou Filipe Lá Féria.
Mais recentemente, graças alguns nomes da nova geração do fado, que conseguiram granjear prémios e fama por esse mundo, a televisão tem acompanhado o fenómeno, mas nunca como gostaríamos que fosse, pois sempre que a TV emite um programa de fado, nunca se vêem aqueles que o povo mais gosta, senão vejam o caso de António Severino, Maria Amélia Proença, António Rocha, Ada de Castro, Manuel Domingos, Maria da Nazaré, Rodrigo ou a grande fadista eternamente esquecida, Fernanda Maria.
Fez-se o programa “Fados de Portugal” (como se houvesse fados em mais algum país!), mas… no canal África ou na TV Internacional, onde só alguns tinham acesso através da TV Cabo. Mesmo neste programa (excepto por duas vezes, a primeira quando uma embaixada do Porto, onde José Neves, Florência, Rosita e Leonor Santos, pontificaram. A segunda com a presença de Fernando João), o norte não foi convenientemente representado. Não por falta de chamadas de atenção, mas talvez por ignorância da própria produção do programa, que estava mais virada para o Ribatejo e Alentejo.
Ressalve-se aqui, O Porto Canal que mais recentemente, tem levado à tela pela mão de Júlio Couto, o programa “Fados Vadios”. Está de parabéns esta estação televisiva do norte, que não esqueceu aqueles que sem esta pequena ajuda, nunca seriam conhecidos do grande público. Pena é, que nenhuma revista e nem mesmo o JN, insira a programação deste canal nas suas páginas, ficando assim ao acaso, a exibição de horários do programa.
Mas voltemos à nossa história…
Pág.20 (continua)
Já Camilo Castelo Branco, em 1840, no seu livro “Eusébio Macário” escrevia:
…(o filho de Macário, o José Fístula era fadista de tabernas) …
…(assobiando fados cheios de saudade) …
…(o Fístula cantava-lhe um fado que punha tremuras involuntárias nas nádegas do pai; ao mesmo tempo a Custódia, lá dentro na cozinha, sacudida pelos bordões gementes da viola, fazia saracotes nos quadris, batendo o pé à frente, na atitude marafona de quem apara nos rijos fados batidos. Ela tinha no sangue um ardor de extravagâncias, uma herança viciosa de sua mãe) …
…(José Macário, fechando a porta à curiosidade da irmã e de Felícia, se permitia recitar fados e glosas de quadras obscenas) …
…(Conhecia de fama o botequim do Pepino em Cima do Muro, onde o fado batido deitava à madrugada, com entreactos de facadas e muito banzé.)
Assim se prova, que já muito antes de 1840, havia fado no Porto.
Tomando como certa a teoria que a palavra “Fado”, como diz Ruben de Carvalho em (Músicas do Fado”. Lisboa: Campo das Letras – 1994), (“…aparece associada às danças dos “Lunduns”, por volta de 1821 com o regresso da Corte do Brasil, embora a palavra já existisse derivada do latim, Fatu, com a designação de sorte; destino, sina”).
Daqui se pode inferir, que não existe grande diferença de anos entre a chegada do fado ás duas cidades portuguesas.
Será que a casa O Pepino, foi a primeira das tascas onde houve fado no Porto?
Talvez! … Mas como tudo evolui, das tascas e lugares de prostituição, como prostíbulos e bordeis, o fado saltou para as casas de fado, restaurantes, depois para retiros, agremiações e associações, (deixando de ter aquele cariz de “faca na liga” muito conotado com o fado da desgraçadinha), isto depois de ter passado pela chamada alta-roda dos salões, para de novo descer à rua e ao povo que é afinal o seu lugar, deixando mesmo assim o chamado fado aristocrata, espalhado pelos solares para ser cantado por muitos, principalmente pelos amantes da monarquia, desde Dona Maria Teresa de Noronha a Carlos Zel, ou de João Braga a João Ferreira Rosa passando pelos Câmaras, etc.
Recordo dos meus tempos de rapaz, de tascas como o Peixoto, próximo de Mouzinho da Silveira, a Vossa Casa em Sá Noronha ou do Rosaldo em Currais junto ao Bairro João de Deus. Mas lembro-me de muitas casas onde o fado foi soberano, desde as propriamente ditas Casa de Fado, até aos retiros onde num ambiente familiar, se passavam bons momentos a ouvir fado de grande qualidade, o chamado “Fado Vadio” (sem qualquer sentido pejorativo, mas que apenas define, um modo da fadistagem cantar aqui, acolá ou mais além, durante uma noite de fadistice).
(Sem qualquer ordem e conforme vou recordando, enumero nas páginas finais deste livro, quase duas centenas dessas casas, do Porto e arredores, aonde o fado morou).
Há muitas casas que não me recorda o nome, mas que foram proprietários: o Carlos Reis, o Vítor Nunes, a Ana Madalena, o António Campos e tantos outros…
Na verdade, a Rádio Festival, nos tempos de José Neves, deu a conhecer muitas delas quando fazia emissões em directo, como prova a grande quantidade de gravações feitas. Só depois, talvez por motivos de logística, começaram as emissões regulares em estúdio aos domingos, com o programa “Fado Vadio”. Mas continua a ser a rádio, que tem um programa diário de fado, à hora do almoço, há mais anos consecutivos.
Sem esquecer os concursos que organizou e promoveu, desde o famoso “Fado Gaia”, onde deu a conhecer muitas e grandes vozes do fado, até aos festivais de verão onde levava aos concelhos limítrofes do Grande Porto, fado de qualidade.
A Rádio Matosinhos, justiça seja feita, também tem no seu mapa de programação, o fado, assim como a poesia, onde já ouvi muita gente “dizer” e bem, com entrevistas a fadistas amadores muito interessantes.
Muito antes, já o Adelino Peixoto na Rádio Activa e depois na Rádio Atlântica, fazia emissões de fado com entrevistas e reportagens de muita qualidade e que muito contribuiu, para a promoção do fado nortenho.
Outras rádios existiram que deram grande cobertura ao fado, como a Rádio Paralelo em Ermesinde, com o programa “Aqui há Fado”, onde o A. Rocha, entrevistou o Carlos M. Cruz (hoje empresário, na época apresentador e colaborador da Associação de Fadistas do Norte na organização do 2º concurso de fados do Porto), na promoção do primeiro trabalho discográfico de Eduardo Alípio.
A Rádio Satélite em Gaia, que tinha um programa de fado pela manhã e onde muitos fadistas foram entrevistados, como a Rosa Cruz por exemplo.
Ainda hoje as sobreviventes Rádio Trofa e a Rádio Sanjoanense e mesmo a Rádio Lidador, continuam a passar o fado nos seus programas.
Já a televisão, que teria um papel importante na divulgação do fado, poucas vezes o traz a nossas casas. Nos últimos trinta anos, tirando o “Fado Fadinho” na TVI, o programa “Carlos do Carmo” na TV Internacional, o programa “Fados” apresentado José Pracana na RTP Açores, algumas passagens em diferido das Grandes Noites do Fado, ou programas esporádicos como a celebração de anos de carreira de alguns fadistas de elite, ou homenagens (que são sempre póstumas!), a alguns fadistas recentemente falecidos como Amália, mas relevando nomes como é o caso de Fernando Maurício ou Manuel de Almeida, poucas mais vezes o fado apareceu, a não ser pelas batutas do João Braga ou Filipe Lá Féria.
Mais recentemente, graças alguns nomes da nova geração do fado, que conseguiram granjear prémios e fama por esse mundo, a televisão tem acompanhado o fenómeno, mas nunca como gostaríamos que fosse, pois sempre que a TV emite um programa de fado, nunca se vêem aqueles que o povo mais gosta, senão vejam o caso de António Severino, Maria Amélia Proença, António Rocha, Ada de Castro, Manuel Domingos, Maria da Nazaré, Rodrigo ou a grande fadista eternamente esquecida, Fernanda Maria.
Fez-se o programa “Fados de Portugal” (como se houvesse fados em mais algum país!), mas… no canal África ou na TV Internacional, onde só alguns tinham acesso através da TV Cabo. Mesmo neste programa (excepto por duas vezes, a primeira quando uma embaixada do Porto, onde José Neves, Florência, Rosita e Leonor Santos, pontificaram. A segunda com a presença de Fernando João), o norte não foi convenientemente representado. Não por falta de chamadas de atenção, mas talvez por ignorância da própria produção do programa, que estava mais virada para o Ribatejo e Alentejo.
Ressalve-se aqui, O Porto Canal que mais recentemente, tem levado à tela pela mão de Júlio Couto, o programa “Fados Vadios”. Está de parabéns esta estação televisiva do norte, que não esqueceu aqueles que sem esta pequena ajuda, nunca seriam conhecidos do grande público. Pena é, que nenhuma revista e nem mesmo o JN, insira a programação deste canal nas suas páginas, ficando assim ao acaso, a exibição de horários do programa.
Mas voltemos à nossa história…
Pág.20 (continua)
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