agosto 26, 2008

À JANELA DO FADO (Livro)

(continuação)

O Marques

Quanto ao Marques Costa, continua a chefiar o supermercado. Quase com 58 anos, esperava ansioso pela reforma antecipada, só que entretanto as leis da Segurança Social mudaram e ficou mais distante esse dia.
Continua a escrever para jornais e dedicou-se ainda mais ao cinema, inscrevendo-se como sócio da cinemateca do Porto.
Como tem os filhos todos casados, concretizou um sonho à muito adiado, converter uma das salas lá de casa na sua videoteca/biblioteca. Com estantes à medida, dispôs os seus autores preferidos por ordem, desde Al Alberto a Zola. Catalogou por ordem os realizadores que mais gosta, desde Almodôvar a Tarantino.
Num escaparate à parte, a que chama a estante dos génios, tem os dez filmes que considera serem os melhores do mundo. O curioso é que esta estante tem sempre doze, porque nunca consegue decidir quais são os dois que vai tirar. Conheço bem aquela dúzia de preciosidades:

Dr. Jivago
2001- Odisseia no Espaço
Ben-Hur
Lourence da Arábia
Rio Bravo
O Clube dos Poetas Mortos
Uma Ponte Longe de Mais
Era uma vez na América
Cinema Paraíso
Ladrões de Bicicletas
Amor sem Barreiras
Casablanca

Continua a frequentar as livrarias da baixa onde é muito conhecido, pelo gosto de andar informado das novas edições. Ainda há poucos dias, entrou numa livraria da zona do Marquês de Pombal, só para dizer ao senhor que fazia a montra na altura:
— Por favor, não ponham o José Saramago, entre os livrecos do Deco e do Mourinho, é uma ofensa ao prémio Novel.
Continua a ser amigo do Márcio, mas carrega uma grande desilusão, por não aprovar o que se passa entre ele e a Lucinda. Afina, ele é o causador da separação dela, e quase da dele, com a sua mania de Casanova.
Vai escasseando as suas idas ao Xaile d’Ouro, sente-se constrangido, ao ser involuntariamente cúmplice da relação do Márcio com a Lucinda.

A Lucinda



A última vencedora do concurso, porque a 2ª edição estava quase a realizar-se, foi a única das quatro nossas conhecidas, que faz carreira a cantar o fado.
A Lucinda depois do seu primeiro CD, que aliás, chegou a estar no topo de vendas da Nordisco, prepara-se para entrar em estúdio para a gravação do seu segundo trabalho. Assinou contrato com uma casa típica de fado da nossa cidade, onde canta três dias por semana. Tem ainda a agenda completa com espectáculos, dois dos quais, para as comunidades portuguesas do Canadá e Austrália.
Tudo isto teve um preço, o divórcio. O marido separou-se, quando soube da relação íntima que ela teve com o Márcio, aquando da sua estada na Alemanha no curso sobre o TGV.
Ele pediu transferência na CP, para a fronteira de Vilar Formoso. Hoje, ninguém lhe fale de fado...
Ela reside agora num apartamento, para os lados do Monte dos Burgos, onde o Márcio a visita com regularidade.
Márcio Cunha fez em Fevereiro cinquenta e sete anos. À boa reforma da C.P. (que atingiu por tempo de serviço), junta alguns proventos dos rendimentos prediais que possui na Amarante e que herdou dos pais. Vive assim bastante desafogado na sua vida normal, a par da clandestina que agora leva com a Lucinda.

É assim a vida...

Tudo isto existe!
Tudo isto é triste!
Tudo isto é Fado!


Pág.35 (continua)


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