(continuação)
A chávena do chá, tremeu na mão de Lara, olhando-o com um ar de surpresa e receio.
— Não sei... Mas...Gostava tanto...
Marcelo chamou o empregado, pagou, meteu o braço a Lara e dirigiu-se ao elevador.
Depois, quando ele abriu a porta do “paraíso”, Lara entrou resolvida a ver o céu. E viu...
Viu galáxias da felicidade, viu nuvens de doçura, atingiu o universo do prazer e sentiu a poeira das estrelas brilharem nos seus olhos. Desejou não mais voltar a este planeta, onde o mundo não eram os braços de Marcelo e a vida não tinha sentido sem eles.
Depois? Depois chorou com o rosto deitado no seu ombro, não de arrependida, mas de alívio e já com saudades daquele momento, que tinha sido dos mais felizes da sua vida.
— Então meu amor estás a chorar, não estás feliz agora?
— Muito! E tu meu querido, achas que Deus nos vai perdoar pelo que fizemos?
— Lara! Será que para Deus amar é pecado? Não creio! Ele que escreve direito por linhas tortas, não teria já previsto este encontro?
— Talvez Marcelo, talvez... Que o nosso pecado se redima, pelo imenso amor que nos une. Mas... vamos ter que nos conter, não nos podemos precipitar. Este amor não passa de uma felicidade triste, é como um fado que nos faz sofrer ao cantá-lo, mas que nos sabe tão bem.
— Tu és o meu fado mais bonito Lara, amo-te tanto que trocava tudo na vida por ti.
— Não Marcelo, não devemos abandonar quem nos quer bem e não tem culpa desta loucura, que nos tolhe os sentidos e o discernimento. Vamos aceitar os momentos que a vida nos der, aproveitar com toda a força do nosso amor todos os bocadinhos que poder-mos. Quem sabe ainda teremos lindos momentos como este!
Entre beijos e carícias, se despediram do paraíso, naquela tarde de sábado. O Sol lá estava, muito laranja para os lados da Foz.
— Agora vamos, deixa-me ficar no cabeleireiro, quero estar linda logo à noite, sinto que vou cantar como nunca cantei e quando me ouvires meu amor, ouve bem o poema, ele é todo para ti. Vamos!
— Não digas que tiraste a letra, do tal livro de poemas que andavas a ler, do tal poeta Olecram que dizes ser indiano?
— Eu digo isso, porque pelo nome parece! Embora não entenda como pode um estrangeiro, escrever letras para fado... Mas tem coisas muito bonitas! Não conheces?
— Conheço, um dia digo-te quem é ele.
Pelo caminho Lara deu um suspiro, o tal pressentimento tinha voltado ao peito, a dizer-lhe que qualquer coisa não estava bem...
Pensou no comboio onde o marido e o filho vinham. Deus queira que cheguem bem, pensou.
Marcelo estacionou de novo no supermercado, passou-lhe as costas da mão pelo rosto num gesto de ternura, beijou-a discretamente — Até logo meu amor — Lara afastou-se com as faces ruborizadas.
Quando ficou só, Marcelo ligou para casa:
— Lúcia não contes comigo para jantar, estou no Coliseu a dar uma ajuda no palco. Janto qualquer coisa por aqui. O teu convite e da Leonilde estão na mesinha junto ao telefone. Vens com ela? O espectáculo começa ás 21h30. (.......)
— Claro que a Lara vai concorrer, já te tinha dito? (........) Tá bem eu dou-lhe um beijo!... Mas logo vais estar com ela, eu arranjo maneira de entrares nos bastidores. Até logo, um beijo.
————— * —————
Já de volta a casa, Lara de touca de banho e completamente nua, contemplava-se ao espelho afagando com ternura o ventre liso, totalmente absorvida num só pensamento: – Será que Deus me vai perdoar? A coisa mais linda que me podia acontecer na vida, era este milagre...
Ao toque do telemóvel, enfiou o robe e correu à sala, era o marido:
— Olá, onde estás? (...)
— Desastre? Ò meus Deus! Onde? (...)
— Ligo a TV? Espera, já estou a ver. (...)
— Não foi o vosso comboio! Ainda bem! Mas...
— Estou a ver. Foi um descarrilamento na linha do norte, junto a Santarém. Dizem não haver vitimas a registar. (...)
— O menino está bem? (...)
— Vais chegar mais tarde? Paciência! (...)
— Eu tinha um pressentimento que qualquer coisa ia acontecer. (...)
— Não, não fico nervosa. (...)
— Deixa lá! Quando chegar chegaste, mas liga-me entretanto, não esqueças! Dá um beijo ao menino. (...)
— Olha, não desligues! Como ficou o Porto? (...)
— Empatou? Vá lá, não foi nada mau! (...)
— Não vai ser tarde! Eu sei que vou cantar lá para a meia-noite, estou integrada no 2º Lote. (...)
— Até logo, cuida do menino, (...) beijos.
Pág.27 (continua)
A chávena do chá, tremeu na mão de Lara, olhando-o com um ar de surpresa e receio.
— Não sei... Mas...Gostava tanto...
Marcelo chamou o empregado, pagou, meteu o braço a Lara e dirigiu-se ao elevador.
Depois, quando ele abriu a porta do “paraíso”, Lara entrou resolvida a ver o céu. E viu...
Viu galáxias da felicidade, viu nuvens de doçura, atingiu o universo do prazer e sentiu a poeira das estrelas brilharem nos seus olhos. Desejou não mais voltar a este planeta, onde o mundo não eram os braços de Marcelo e a vida não tinha sentido sem eles.
Depois? Depois chorou com o rosto deitado no seu ombro, não de arrependida, mas de alívio e já com saudades daquele momento, que tinha sido dos mais felizes da sua vida.
— Então meu amor estás a chorar, não estás feliz agora?
— Muito! E tu meu querido, achas que Deus nos vai perdoar pelo que fizemos?
— Lara! Será que para Deus amar é pecado? Não creio! Ele que escreve direito por linhas tortas, não teria já previsto este encontro?
— Talvez Marcelo, talvez... Que o nosso pecado se redima, pelo imenso amor que nos une. Mas... vamos ter que nos conter, não nos podemos precipitar. Este amor não passa de uma felicidade triste, é como um fado que nos faz sofrer ao cantá-lo, mas que nos sabe tão bem.
— Tu és o meu fado mais bonito Lara, amo-te tanto que trocava tudo na vida por ti.
— Não Marcelo, não devemos abandonar quem nos quer bem e não tem culpa desta loucura, que nos tolhe os sentidos e o discernimento. Vamos aceitar os momentos que a vida nos der, aproveitar com toda a força do nosso amor todos os bocadinhos que poder-mos. Quem sabe ainda teremos lindos momentos como este!
Entre beijos e carícias, se despediram do paraíso, naquela tarde de sábado. O Sol lá estava, muito laranja para os lados da Foz.
— Agora vamos, deixa-me ficar no cabeleireiro, quero estar linda logo à noite, sinto que vou cantar como nunca cantei e quando me ouvires meu amor, ouve bem o poema, ele é todo para ti. Vamos!
— Não digas que tiraste a letra, do tal livro de poemas que andavas a ler, do tal poeta Olecram que dizes ser indiano?
— Eu digo isso, porque pelo nome parece! Embora não entenda como pode um estrangeiro, escrever letras para fado... Mas tem coisas muito bonitas! Não conheces?
— Conheço, um dia digo-te quem é ele.
Pelo caminho Lara deu um suspiro, o tal pressentimento tinha voltado ao peito, a dizer-lhe que qualquer coisa não estava bem...
Pensou no comboio onde o marido e o filho vinham. Deus queira que cheguem bem, pensou.
Marcelo estacionou de novo no supermercado, passou-lhe as costas da mão pelo rosto num gesto de ternura, beijou-a discretamente — Até logo meu amor — Lara afastou-se com as faces ruborizadas.
Quando ficou só, Marcelo ligou para casa:
— Lúcia não contes comigo para jantar, estou no Coliseu a dar uma ajuda no palco. Janto qualquer coisa por aqui. O teu convite e da Leonilde estão na mesinha junto ao telefone. Vens com ela? O espectáculo começa ás 21h30. (.......)
— Claro que a Lara vai concorrer, já te tinha dito? (........) Tá bem eu dou-lhe um beijo!... Mas logo vais estar com ela, eu arranjo maneira de entrares nos bastidores. Até logo, um beijo.
————— * —————
Já de volta a casa, Lara de touca de banho e completamente nua, contemplava-se ao espelho afagando com ternura o ventre liso, totalmente absorvida num só pensamento: – Será que Deus me vai perdoar? A coisa mais linda que me podia acontecer na vida, era este milagre...
Ao toque do telemóvel, enfiou o robe e correu à sala, era o marido:
— Olá, onde estás? (...)
— Desastre? Ò meus Deus! Onde? (...)
— Ligo a TV? Espera, já estou a ver. (...)
— Não foi o vosso comboio! Ainda bem! Mas...
— Estou a ver. Foi um descarrilamento na linha do norte, junto a Santarém. Dizem não haver vitimas a registar. (...)
— O menino está bem? (...)
— Vais chegar mais tarde? Paciência! (...)
— Eu tinha um pressentimento que qualquer coisa ia acontecer. (...)
— Não, não fico nervosa. (...)
— Deixa lá! Quando chegar chegaste, mas liga-me entretanto, não esqueças! Dá um beijo ao menino. (...)
— Olha, não desligues! Como ficou o Porto? (...)
— Empatou? Vá lá, não foi nada mau! (...)
— Não vai ser tarde! Eu sei que vou cantar lá para a meia-noite, estou integrada no 2º Lote. (...)
— Até logo, cuida do menino, (...) beijos.
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